sexta-feira, 1 de agosto de 2008
POMBOS... GIROS
Suponhamos que hoje eu sou uma pomba – detesto pombas mas, de alguma forma, nos últimos dias tenho-me sentido solidária com elas…
Assim, agora – para efeitos deste texto – eu sou uma pomba…
Então… eu estou ali numa das praças tranquilas de Lisboa, por exemplo a Praça das Flores, a desempenhar algumas das minhas tarefas habituais de todas as manhãs como voar do lado direito da praça para o lado esquerdo; colaborar esporadicamente com “material orgânico” para a decoração da calçada ou para o realce da estampa da T-Shirt dalgum "felizardo" que por acaso está no lugar certo na hora certa … todas estas coisas importantíssimas para a sociedade, sempre com a “esperança do pequeno almoço”: pedaços de pão que alguém sempre traz para estimular a minha fertilidade e assim aumentar o número de pombas que desempenham tarefas socialmente relevantes como as mencionadas acima…
Pois… lá estou eu, no meu estilo pombalino, à espera das migalhas que vou conseguir arrancar às minhas colegas para conseguir subsistir por mais um dia… mas… espera lá… o que é isto?? Hoje há algo de diferente… Não é a velhota habitual que nos vem trazer o pequeno-almoço de todos os dias… são uns homens – cá entre nós muito giros… se fossem pombos, seriam “pombos-giros”**… pois é… as pombas também têm sentido de humor :-) … - vestidos numas roupas amarelas fosforescentes… extra terrestres talvez (??) … ah não… infelizmente não… são funcionários da Câmara mesmo… o quê?? Eles trazem pequeno-almoço para um ano inteiro! Olha lá pombarada!! Eles jogaram tudo ao mesmo tempo bem no centro da praça! Vou voar lá… ou melhor, todas nós vamos… ai meu Deus!! - além de ser uma pomba com sentido de humor, sou também católica… mas não… ainda não pertenço à maçonaria – este é meu… este também… espera aí!! O que é isto? Uma rede!!! Uma rede!!! Meninas… fujam!! Esforço... esforço… esforço… ufff… escapei!! Que bom!
Consigo, então, voar até a Assembleia da República (quem sabe a Democracia me salva) … mas… espera lá… sinto-me mal… deveria ter balanceado melhor a quantidade de hidratos de carbono ingerida logo pela manhã (meu personal trainer vai me matar!!) … mas sinto-me mal mesmo… oh Eléctrico! Dá uma ajudinha aqui! Espera aí... mas de repente, sinto-me bem… como se flutuasse… O quê?? O que é aquilo ali? Sou eu?? Euzinha… morta… ali na calçada da “Casa da Democracia”… Ai que medo… E o que é isto?? Um anjo?? Para onde me leva meu Senhor?… Ainda mais sem as minhas colegas?? Não!! Pára tudo, Sr. Anjo! Eu não subo enquanto não ver o que vai acontecer ao meu corpo pombalino… ali jogado na calçada da Assembleia da República… Vou sentar-me aqui nesta árvore e esperar para ver o que acontece. Depois pode carregar-me para onde quiser…
E assim passam-se dias… muitos… e Eu aqui, enquanto espírito de pomba morta, sentada nesta árvore à espera de alguém que dê um fim aceitável aos meus restos materiais…
Pois… e juro que neste intervalo de tempo, vi muita coisa que – talvez por causa da minha existência de pomba (morta??) - não consigo perceber … coisas curiosas como o meu corpinho estar ali jogado às vistas de todos… a apodrecer… enquanto aqueles extra terrestres vestidos de amarelo gastam horas e horas no grande projecto de multar velhotas “infractoras” que dão de comer às minhas primas… e, passados tantos dias, consegui formular uma teoria… uma conclusão (pombalina!)… a de que tanto Eu, enquanto espírito de pomba morta, quanto as centenas de pessoas que já vi passar por aqui e as velhotas que alimentam os pombos numa tentativa desesperada de serem úteis para algo… merecem um fim mais digno… Mas, afinal, quem sou Eu – espírito de pomba morta, que nem gira** era – para dar palpites em assuntos de Estado?
** Pomba-gira: Pomba-gira ou pombajira, por vezes grafada pombagira é uma entidade que trabalha na Umbanda e na Quimbanda, na linha de esquerda e que representa a sexualidade e a magia.
Amora
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2 comentários:
amora;
também a mim, os restos mortais pombalinos impressionam...
e como tem carcaça de pomba por esta cidade... já dá até para fazer classificações, do tipo:
- pomba morta seca
- pomba morta com a cabeça esmagada
- pomba morta de morte natural (quando não vemos sangue ou fracturas)
acho até, que como profissional com responsabilidades no âmbido da normal fluição urbana, deveria classifica-las como mobiliário urbano e inventar algumas regras para o depósito dos corpinhos... para que não obstruam a passagem pedonal, ou não entupam sargetas...
enfim...
grande badalhoquice! Não das pobres palomas, mas sim dos meus superiores...
pois...
mas acho que a pomba morta de morte natural deveria ser um subgénero da pomba morta que não assusta tanto, já que nas "envenenadas ao pequeno almoço" não há tampouco rastos de violência...
amora
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