quarta-feira, 30 de julho de 2008

A estranheza do novo ou a novidade do estranho...


Outro dia, uma desconhecida, mera companheira de pastelaria, virou a minha melhor amiga.
Outro dia, um colega de trabalho chorou ao me ver chorar.
Outro dia, o senhor que vende cafés no quiosque do Príncipe Real, percebeu que eu estava angustiada…
Outro dia, uma senhora desconhecida passou duas horas a correr atrás do meu cão que tinha fugido.
Outro dia, dei a mão a uma menina que estava a ter um ataque de pânico.
Outro dia, vi uma amizade forte nascer do tempo, da convivência, do costume de ter alguém por perto…

Eu confesso que este texto é um texto invertido: a minha ideia inicial era escrever sobre o tempo que é preciso para conhecer alguém e torturar-me um pouquinho com a lembrança das decepções que tive com pessoas que julgava conhecer profundamente mas que acabaram por provar-se completos estranhos…

Entretanto, fui surpreendida por mim mesma… De repente, comecei a lembrar-me de todas as boas vivências que me foram proporcionadas por estranhos… e as decepções foram invertidas em “surpresas”… às vezes acho que os anjos existem e que eles andam por aí na forma de “desconhecidos” capazes de, com um pequeno gesto ou palavra, realizarem um grande acto…

Pois é… e, para já, faço mais uma confissão: eu estou feliz com esta inversão. Uma inversão que, misteriosamente, já devia estar a organizar-se nalgum lugar já há algum tempo… e que brotou de repente, passando a impressão de ter nascido do nada.

E não me sai da cabeça algo que uma “estranha” disse-me há pouco tempo: não devias usar tanto a palavra ‘estranho’… afinal, o que tens contra o ‘novo’”?

Amora

refilar


Eu sempre pensei que este tipo de coisas só aconteciam comigo, mas depois de uma exaustiva pesquisa baseada na observação em campo, eu reparei que isso acontece com quase todo mundo. Quem anda pela cidade sabe!

A situação: refilar com alguém por algum motivo do género, jogou papel no chão na paragem do autocarro estando do lado de uma papeleira ou demorou tempo demais no multibanco. Daí, este alguém te dá uma resposta atravessada e vc não consegue pensar numa resposta de volta! Depois de 1 minuto, blink! A resposta vai para a ponta da língua! No entanto, a pessoa acabou de ir embora e o seu timming passou!

Reacção a) Ficar com cara de parva, calada.

Reacção b) Dar a tal resposta para os espectadores da peixeirada que, geralmente, concordam contigo e debatem o assunto durante os extensos minutos enquanto o autocarro não chega ou enquanto não chega a tua vez de usar o multibanco e ir-se embora também...

Reacção c) Quando a pessoa não dá a tal resposta temporã para os espectadores, mas sim para eles mesmos! Continuam a discussão a falar sozinho, como se o interlocutor ainda estivesse lá. Daí, fica todo mundo olhando para o sujeito pelo canto do olho e passam a dar razão para aquele que está ausente. (este tipo de reacção é mais comum entre os velhotes que já têm o hábito de falarem sozinhos, não acontece comigo... esta informação está baseada na exaustiva pesquisa de campo.)

A única vantagem nisso tudo é que a gente pode chegar no trabalho e recontar a história numa versão alterada... onde vc não perdeu o timming e saiu em grande da discussão!

Para o meu deleite, felizmente, existem ainda aquelas pessoas super perspicazes que nunca perdem o timming e sempre têm argumentos racionais... quando vejo uma peixeirada envolvendo uma pessoa assim, fico assistindo tudo com muita atenção e até perco o autocarro caso esteja à espera de um. Eu invejo quem tem o dom da oratória. Daí, passo os próximos 20 minutos quase em transe, relembrando a discussão e analisando os argumentos cirurgicamente colocados pelo cidadão eloquente. Acho que quando eu for velhota serei do tipo que fala sozinha.


amora´

terça-feira, 29 de julho de 2008

na pastelaria


Quem frequenta pastelaria sabe... todo mundo tem um jeito especial de comer as coisas, e a gente jura que o empregado da pastelaria tem obrigação de ser como a nossa mãe, ou a nossa avó, que faz TUDO do jeitinho que a gente gosta...

Daí, a gente chega na pastelaria, atrasada para o trabalho, e vê que tem uma velhota bebendo uma mísera bica, sentada justamente no seu lugar favorito! Stress! A gente olha para o empregado com aquela cara de quem tá pensando “você não vai fazer nada?” Passado o stress inicial, já instalada de trombas numa outra mesa, a gente espera que o empregado venha prontamente retirar o seu pedido, se o homem demora mais do que dois minutos, a gente já acha que ele tá fazendo de propósito e que o serviço daquela pastelaria está cada vez pior... stress! Daí, ele chega e você faz aquele pedido tão personalizado que nem mesmo a tua avó iria conseguir memorizar tantas especificações, do tipo: “uma galão de máquina escuro e morno, um pastel de nata dos mais branquinhos com canela e uma tosta de queijo bem tostada em pão de leite com pouca manteiga, se faz favor” ! Daí ele esquece um pormenor aparentemente sem importância (do tipo, a tosta vem no pão de forma). Daí, você até chora, porque não consegue comer aquilo e já não tem tempo para esperar por outra.

Por isso, o bom mesmo é frequentar sempre a mesma pastelaria e pedir sempre a mesma coisa, porque mais cedo ou mais tarde o empregado já vai ter decorado o seu pedido. Daí, fica ainda melhor do que na casa da nossa mãe, ou da nossa avó, porque o empregado nunca vai te fazer perguntas, pregar sermão, ou dizer coisas como: “oh menina, você não deveria fumar tão cedo!”
Ass: Amoralinha

O OVO DE OURO


Cara Amoralinha,

o seu último post é lindo...
nem tenho como responder dada a minha "inexperiência" no que se refere à maternidade em concreto... mas olha lá que eu já "pari" muita coisa por aí... afinal acho que a gente pode ser mãe de diversas coisas (incluindo ex-namorados...).
Enfim, não sou mãe... mas tenho um instinto materno muito aguçado a que tento dar vida através de meios abstractos, como a ficção...
Lá vai um pequeno monólogo que criei para a protagonista da minha próxima peça, que é UMA GALINHA, mãe de um lindo OVO chamado JC...

"G (a colocar o OVO em evidência):
Este aqui é o João, meu filho - João Carlos ... como o rei da Espanha!!! - não é lindo???... Não sei bem quem é o pai... mas não pensem, por favor, que eu sou uma Galinha promíscua!! Sou é cobiçada... pois sim…e tenho uma tendência para histórias intensas e fugazes... rápidas... digamos que a minha vida está mais para uma compilação de contos do que para um romance...
Nunca preocupei-me muito com isto, sabem... entretanto agora... agora que estou a passar por esta fase de transição... pois é... é sempre assim... episódio e transição.... depois, mais um episódio e transição... e a transição é branca, opaca... não se enxerga o além, mas sabe-se que ele está lá... acho que é esta a grande solução para as angústias do presente... saber que logo ali... para além daquela cortina branca, existe algo de novo... mas como dizia… entretanto agora... agora que estou a passar pela... pela... deve ser a décima… mais ou menos assim... já perdi as contas... transição da minha vida, sinto que as histórias que carrego, esta colecção de lembranças e sentimentos está a pesar demais... E não pensem que me considero uma velha, não é isto! Mas vivi demais e muito, e de repente vejo que já não aguento mais seguir com toda esta bagagem... começo a esquecer cenas e falas... as sequencias misturaram-se... e já não consigo mais enxergar uma linearidade temporal... as lembranças transformaram-se numa massa confusa e densa... perco-me nelas... e, como nunca tinha pensado nisto, dada a minha tendência para o fragmento, de repente vejo-me na necessidade de organiza-las... arruma-las em estantes por ordem alfabética e estabelecer um linha de continuidade entre todas... episódio... transição... episódio... transição... e lá está a busca da unidade... é... pois é... a vontade de deixar algo para a posteridade... uma “criação” que garanta a continuidade depois do “assado”...
[ergue o OVO com as duas mãos e depois aperta-o contra o peito]
E cá está o meu JC... a grande relíquia... ou melhor, o tesouro que guardo das minhas short stories... o porvir em si... sem mais nem menos... e, como todas as criadoras, as grandes MÃES, vislumbro um futuro de glória para o meu querido.... Quem sabe, o João possa até vir a ser o Galo do logotipo do azeite... ai… que carreira!
[faz uma curta pausa para reflexão. Quando recomeça a falar, assume um tom ainda mais enérgico...]
E sabe que numa dessas minhas aventuras, conheci um galo francês... um desses metidos a intelectual... que me queria convencer de que o que se deixa para a posteridade não precisa necessariamente ser um OVO... que a tal “criação” poderia ser qualquer coisa que saia lá de dentro e que de alguma forma transmita a nossa experiência para as gerações futuras … Imaginem só que delícia deve ser botar um livro bem retangular e ainda de capa dura!! Um daqueles estilo Dostoiévsk... crime e castigo na prática...
Enfim, eu na minha simples existência de Galinha só sei botar OVOS - lindos assim como o JC (de João Carlos, claro) - e nada mais. Sei também falar mal das outras Galinhas... mas isto é só um detalhe... um hobby.
E que não me venham com aquela história de que o OVO é provisório... de que o JC está debaixo das minhas asas só por um intervalo de vida, de que vai crescer seguir o seu caminho... e que eu, depois disso, como nunca fiz nada de marcante - nunca construí um avião, pari uma enciclopédia ou cometi um ataque terrorista… - vou ficar vazia, frustrada… isto pode até ser que aconteça às OUTRAS galinhas... avec MOI non! o MEU JC vai estar sempre preso à mamã... hão de ver..."

A continuar...

Ass: Amora

quando o mundo muda


E imaginem que de repente, o centro do seu mundo deixa de ser você. De repente, aquilo que primeiro te vem a cabeça não é mais o seu próprio bem estar. Aquilo que realmente te importa não é seu corpo nem a sua mente ou a sua vida.

Não, você não morreu... pelo contrário, você teve um filho.

Quando ouvimos falar que ao ter um filho, a nossa vida muda radicalmente, pensamos sempre que o que vai mudar é a nossa rotina e nossas prioridades. E, como é óbvio, isto de facto muda definitivamente. Mas, a mudança mais significativa, assustadora e bonita é a mudança do sentido da nossa vida.

De repente, aquilo que há algumas semanas atrás fazia todo sentido, lhe parece absolutamente pointless, e coisas que dantes passavam despercebidas, tornam-se tão importantes e bonitas que sentimo-nos como estúpidos por não termos reparado nelas com maior antecedência.

Coisas tão simples como o próprio passar do tempo. É, o passar do tempo, quando temos um filho torna-se particularmente especial. A presença física de um filho faz com que relacionemos as gramas, os centímetros, o número de sorrisos com os dias passados. Depois relacionamos os anos com as descobertas, paixões, decepções e conquistas.

Um filho é a materialização do tempo, um filho é a materialização da felicidade .

Num repente, as nossas crises existenciais perdem importância, dando lugar a uma certeza absoluta que nos preenche e completa. A presença do filho.

A força da insubstituível presença daquele que você gerou, implica na observância de factores como; a importância daquilo que comemos, a temperatura ambiente, as estações do ano, a saúde daqueles que nos rodeiam, os níveis de ruído, a qualidade do ar, a qualidade das nossas relações, a importância e beleza do tempo. Estes factores, que dantes pareciam alheios a nossa vontade, depois da chegada do filho nos parecem manipuláveis.

São as nossas escolhas que passam a ter um critério completamente diverso. Agora nos parece um pouco mais óbvio escolher isto em detrimento daquilo, visto que fazemos escolhas a pensar por alguém. Sempre foi mais fácil resolver as questões alheias. Deve ser por isto que os pais têm sempre aquele ar de quem conhecem o segredo do universo e têm respostas para todas as questões.

Assim, o nosso mundo muda e já não somos mais aquilo que éramos. Somos mais. Mais complexos, mais importantes, mais bonitos, mais felizes. Assim, agora, somos dois.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A CIDADE MINADA

Para já... a classificação dos cocós de cachorro que se encontra pela cidade de Lisboa publicada no blog - moribundo - "A Cidadã Normal". Blog este, que está moribundo porque a tal cidadã deve ter percebido que não é normal... Graças a DEUS!)
Ass: Amora

Caminhar pelas ruas de Lisboa pode ser algo muito perigoso. Mesmo sendo uma capital europeia, o perigo pode estar ao dobrar da esquina... quem anda a pé pela cidade sabe...

Dentre os diversos perigos, trataremos aqui dos vulgares cocós, que encontramos em todo lado. Não importa em que freguesia você viva, eles estão lá! Espalhados pelos passeios da cidade, do Restelo à Marvila. Após exaustiva pesquisa de campo, verifiquei que os cocós são depositados na via pública sem qualquer cerimónia, os cãezinhos são propositadamente postos nos arredores de suas casas para fazerem nas ruas aquilo que seus proprietários não gostariam que eles fizessem em casa.

Na referida exaustiva pesquisa, classifiquei os cocós em 4 categorias:

a) Cocó coluna; é um tipo raro e dos menos perigosos. O cocó coluna é aquele que permanece em sua posição original: vertical. Ele é um tipo raro, pois não é fácil conseguir que o bolo fecal não tombe após a conclusão de seu depósito, isto implica em que o cocó tenha um diâmetro razoável para que consiga alguma estabilidade e que seja depositado de uma só vez, sem interrupções. Esta categoria é das menos perigosas porque chama a atenção dos transeuntes evitando maiores danos.
b) Cocó montanha; dos mais comuns, o cocó montanha é produzido por cães de médio e grande porte e geralmente é depositado pela manhã, após um grande período de armazenamento de substância fecal. O cocó montanha é o mais perigoso, pois geralmente é cremoso e face a sua grande dimensão, este tipo de cocó causa grandes estragos nos sapatos de suas vítimas e nos passeios donde ficam impressos.
c) Cocó tapete; o cocó tapete é uma variação dos cocós coluna e montanha. Este cocó é originalmente um dos tipos acima referidos após ter alcançado o seu objectivo de ter sido pisado por alguém. No entanto, este cocó continua a promover perigo pois, face a sua grande extensão territorial ele é facilmente pisoteado por outras vítimas, que vão aumentando sua mancha de degradação e podem até conurbar-se com outros cocós das proximidades.
d) Cocó seco; também uma variação dos dois primeiros tipos e o menos perigoso de todos os cocós. O cocó seco é aquele que sobreviveu a intensos pisoteios e às intempéries, permanecendo intocado num passeio perto de si. Este cocó não oferece muito perigo, uma vez que já seco, não consegue se entranhar nas ranhuras dos sapatos de suas vítimas.

Em minha exaustiva pesquisa de campo, fiquei com uma dúvida . Será que os proprietários dos cães que depositam seus cocós na via pública nunca tiveram a infelicidade de pisar no cocó de um outro cão ou do seu próprio? Será que não se importam? Neste caso, ponho uma outra questão. Porque então eles não fazem com que seus cães depositem seus cocós no interior de seus ricos lares?

all about them (?)

Incumbiu-me a minha parceira, de classificar os do género masculino.

São eles:

- o jovem cabaço boa onda
- o cabaço
- o pantufeiro
- o tapado
- o depressivo
- o cool sujo
- o cool limpo (demasiadamente limpo)

Well, na verdade, minha cara parceira, acho mesmo que eles se dividem em apenas 4 categorias...

- os que não querem amadurecer
- os que amadureceram demais
- os que não nos interessam
- os que não se interessam por nós

Ou seja... a coisa é bem mais simples do que julgamos.

Vamos lá, então...

- os que não querem amadurecer:
Eles estão aí... são muitos e podem se esconder sob os mais diversos disfarces. Não interessa a sua capa – “boa onda”, “pseudo intelectuais”, “artistas” (vixe... este é um dos disfarces favoritos! Tão fácil esconder a imaturidade na capa de um artista incompreendido a que tudo se deve desculpar em nome da sensibilidade), “workaholics”...
Em sua essência, eles têm todos o mesmo problema... são incapazes de se enxergarem num momento futuro, onde as suas vidas passam a ter o inconveniente da partilha, da monogamia e da cedência. Afinal, vc consegue imaginar algo mais difícil que viver a dois (ou a três, ou a mais)? Vc consegue imaginar algo mais difícil do que encarar a crua simplicidade da vida, onde a realidade têm preponderância sobre os nossos loucos sonhos e alter-egos?
Pois é minha cara... estes exemplares humanos ainda não conseguiram abandonar o ninho parental, onde todos os seus actos estão protegidos pelo estatuto de “filho”, a que tudo se desculpa e a tudo se compreende. Eles ainda não estão preparados para ultrapassar a fase do “ter potencial”, e chegar no ponto de mostrarem aquilo que realmente valem.
Enfim, não importa how charmming they are... estes ainda não se tornaram homens verdadeiros.

- os que amadureceram demais:
São aqueles que querem estabilidade a todo custo, e não sabem viver sozinhos. A vida a dois não é uma opção, e sim uma condição de sobrevivência. Não os interessa a paixão, não os interessa a aventura, a descoberta… eles buscam o conforto do previsível sem questionar o preço a pagar por ele…na verdade, este preço para eles não existe, pois a instituição da vida a dois é a verdade absoluta!

- os que não nos interessam:
Estes são aqueles que seriam perfeitos, caso nos interessassem… e a gente tem muita pena de não sentir nada por eles… e a gente acha que se sentíssemos seríamos felizes…

- os que não se interessam por nós:
E finalmente, os inatingíveis… os bacanas… maduros, reais (com alguns defeitos), os companheiros…mas vá com calma… eles não estão ao nosso alcance. Geralmente, eles namoram com algumas poucas amigas nossas, e na maioria das vezes, namoram mulheres que nós odiamos!

Mas nem só do baço, vivem as amoras... sabemos que a tampa da nossa panela existe, e se não estivermos dispersas, poderemos vê-la aqui, bem pertinho de nós!

Ass: Amoralinha

DESPERATE SEARCHING FOR SOPA

Vou directo ao que interessa! Não vou me apresentar nem explicar o que é este blog. Não interessa! É um desabafo. Isto mesmo. Um desabafo colectivo, meu e da minha querida amiga Amoralinha. Enfim, sem mais… prossigo.

Inspirada numa catalogação das espécies de cocó de cães que se encontra pelas ruas de Lisboa publicada já há algum tempo num blog moribundo, resolvi fazer uma catalogação do mesmo género: fiz uma catalogação dos tipos de homens que tenho tido o “enorme prazer” de conhecer nos últimos tempos pelas noites (e tardes e dias…) de Lisboa. E o resultado foi o seguinte:

Espécie “PANTUFEIRO” (o tipo que até agora parece ser o predominante por estas bandas…): trata-se daquele gajo que quando vai dormir pela primeira vez na casa da namorada traz os pijamas com estampa de cãozinho que ganhou da avó no seu 18º aniversário (grande data! Maioridade penal!! Já pode ser preso pelos crimes que comete, como chegar atrasado na casa da mãe para tomar a SOPA do final de tarde…) e – o melhor de tudo!! – as PANTUFAS!! (afinal, como é que se pode passar uma noite elas???). Além de carregar as pantufas para todos aos lados… em geral, têm medo de tudo, não arriscam nada (o status quo é sempre a opção!), são hiper responsáveis (para não decepcionar a mãe!!) e têm mania de limpeza (cuidado mulheres quando virem que um novo Date tem no carro aqueles líquidos anticépticos para limpar as mãos…). O Pantufeiros em geral moram com a mãe, ou, no mínimo, num apartamento que pertence à mãe, ou que ganharam da mãe… ou até mesmo num apartamento que tenham comprado (estes já são uma variação dentro da espécie Pantufeiro – o Pantufeiro Independente), mas que esteja localizado no mesmo prédio do apartamento da mãe.


Espécie “CABACINHA TRADICIONAL” (um tipo muito corrente em Lisboa): Trata-se daqueles que são muito inteligentes, escrevem artigos nos jornais com premissas absolutamente revolucionárias mas com conclusões absolutamente tradicionais. Os Cabacinhas Tradicionais costumam andar por aí de calças de gangas - o que lhes dá um ar moderno… - mas daquelas bem comportadas (sem variações de tonalidades de azul, sem furos ou remendos e, sempre, num corte tradicional!!). Atenção, o “querido” MOCASSIM é também uma constante nos Cabacinhas Tradicionais. Os Cabacinhas Tradicionais em geral não moram mais com a mãe mas passam na casa dela todos os dias para tomar SOPA - hein??!! – e para levar as camisas para engomar… Trata-se dum tipo que até vislumbra a vida para além dos limites da SOPA do final de tarde na casa da mãe, mas não consegue se livrar deste ritual (mesmo quando não vão à casa da mãe para tomar a SOPA, porque terão um semana muito cheia de trabalho, trazem já no Domingo um “panelão” cheio de SOPA para durar até o próximo Domingo)… Os Cabacinhas Tradicionais são um tipo perigoso porque até conseguem convencer uma mulher (no começo, é claro…) de que são homens experientes, ousados e seguros de si. CUIDADO COM AS APARÊNCIAS!!


Espécie “CABACINHA MIRIM DA ONDA”: Trata-se daquele tipo que se encontra numa faixa etária ambígua (dos 19 aos 28 anos)… que já têm a aparência de homens … e que já se interessam por cotas como nós, rondando a faixa dos 30 (mas com tudo em cima J )… estes em geral são filhos de pais divorciados, ou seja, provêm duma casa onde a estrutura familiar dificulta a SOPA de todos os dias… Mas cuidado mulheres!! Atenção! Eles não “têm” a SOPA, entretanto desejam acima de tudo! Alimentam diariamente a esperança de chegar um dia em casa e encontrar a SOPA… mas como a realidade é dura… ficam sempre frustrados. Portanto, o Cabacinha Mirim da Onda é em geral um tipo incompleto (afinal não tem a SOPA) que procura preencher esta “lacuna” das mais variadas formas: a indissociabilidade da MALTA da “Facú” (faculdade…) que representa o território seguro.., conhecido… aquilo que para os Pantufeiros (já mais velhos e experientes… ehehehehe) é representado pelo sagrado “status quo”; a manutenção da namoradinha do jardim da infância até a fase adulta (ou até o fim da vida, sabe-se lá…) ou a manutenção de vínculos próximos com a “ex” do jardim da infância, aquela que fica guardadinha no baú representando a “eterna potencialidade da Sopa”…; e – o traço mais marcante deste tipo – a paranóia (quase “nietzscheana”) do eterno retorno à casa – ELES NÃO CONSEGUEM DORMIR UM DIA SEQUER FORA DE CASA!. Entretanto, como os Cabacinhas Mirins da Onda tiveram uma criação menos católica (pais separados…), mais aberta a mudanças e pertencem a uma geração mais jovem… eles diferem dos Pantufeiros e dos Cabacinhas Tradicionais porque já usam calças de gangas com cortes modernos (daí a denominação “da Onda”!), tonalidades manchadas (e até buracos!!) e sobretudo até sabem e gostam de fazer sexo. Mas cuidado mulheres! Eles trocam qualquer coisa pela mera “SOMBRA DA SOPA”… e aí, já chegamos a Platão e sua maravilhosa alegoria da Caverna…


Espécie “COOL METRO”: Trata-se da negação do “Pantufeiro” e duma evolução do Cabacinha Tradicional. Estes têm horror a compromissos, são irresponsáveis e têm um quotidiano “vampírico”: saem quase todas as noites até de manhã e dormem até tarde. Podem fazer isto porque são em geral “profissionais-liberais”, que começam a trabalhar à hora do almoço ou vivem do seguro desemprego, do “seguro SOPA” (da mãe…) etc… Os Cool Metro são muito “cool!!!”. Usam roupas cool, têm cabelos com cortes cool, só conhecem pessoas cool, usam cosméticos muito cool, frequentam lugares cool… e muitos deles têm até filhos cool de ex(eternas)-mulheres muito cool… Os Cool Metro (para provar que têm uma relação absolutamente cool com o sexo) só fazem sem preservativos e adoram “one night stands”… mas cuidado mulheres! Muitos deles são dados àquela “queda nietzscheana do eterno retorno”… gostam de repetir algumas one night stands para sempre… com todas as mulheres que já saíram por aí… e com a desculpa de que são 100% honestos, de que não estão a enganar ninguém e que, por isso, não estão a fazer nada de mal. Em geral, os Cool Metro, quando atingem idades avançadas, tendem para uma metamorfose em Pantufeiros (a repulsa e o desejo como as duas faces da mesma moeda… Freud explica!!) …


Espécie “COOL SUJO”: São identificáveis pelo estilinho rasta… em geral andam pela zona do Adamastor e gostam de manter aquela aparência de mendigos com um background de elite. São perfeitos para casos passageiros (daqueles que a gente precisa para tirar a “urucubaca” de algum coração partido…) já que, devido ao excessivo consumo de maconha, nunca se lembram do que fizeram ontem… Estar com eles é equivalente a um dia na praia…


Espécie “FILHINHO DE DOSTOIÉVSKI”: De todos os tipos, na minha humilde opinião, os Filhinhos de Dostoiévski são os mais medíocres… Muito estudados e cultos, já leram todos os livros do Dostoiévski mais de duas vezes (até em aramaico!) e viram os filmes do Truffaut no mínimo sete vezes cada um, cinco delas em câmara lenta (para demorar mais para acabar…). São absolutamente contra todas as instituições, cospem no casamento… Aliás, adoram cuspir conhecimentos e justificar as “cafagestagens” que aprontam por aí com citações de Kikegaard e afins… Atenção!!! Têm mania de triângulos amorosos (qualquer semelhança com os romances do querido “Dosto” ou filmes do “Truffie” é mera coincidência…); buscam sempre a mulher ideal (que, por sinal, deve ser sempre muito bonita, inteligente, independente e, principalmente, SOFREDORA, MELANCÓLICA, aquela que vai acabar só porque o herói da história tem algum impedimento…) e, como é de se esperar, nunca a encontram… a busca continua sempre…


Espécie “TAPADOS POR EXCELÊNCIA”: São os mais fáceis de descrever. Em geral andam de bermudões da Timberland e T-Shirt. A sandalinha “romana” é uma constante. São fáceis de descrever porque são vazios. Simplesmente estão no mundo mas ainda não perceberam. Passam pela vida como passariam por qualquer coisa… sem notar nada. São muito dóceis e concordam com tudo desde que não provocados a pensar… neste caso, viram monstros… “como assim? Quer que eu pense?? Onde já se viu??”. Não magoam nem marcam. São fáceis de esquecer…

Enfim, estes são os sete “tipos” que consegui identificar ao longo dos últimos meses de “guerra”… Dada a descrição acima, resolvi retirar-me do campo de batalha e aproveitar o meu tempo com coisas mais interessantes… Mas como a esperança é a última que morre, deixo aqui um último tipo:

O “WANTED”, cuja descrição é ainda mais simples do que a do Tapado por Excelência – AQUELE QUE NÃO SE ENCAIXA EM NENHUM DOS MODELOS ACIMA (e que com certeza anda por aí... eu mesma já topei com alguns... mas deixei passar...).

Ass: Amora